segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Combustão Humana Espontânea: Um mistério sem solução

Em 1663, o físico dinamarquês Thomas Bartholin descreveu uma mulher que “ardeu em chamas e fumaça” enquanto a cama de palha em que estava deitada permaneceu intacta. O estranho incidente, que aconteceu em Paris, é tido como o primeiro registro de um fenômeno que hoje conhecemos – mas que não compreendemos – como combustão espontânea.
A combustão humana espontânea é o nome dado ao raro acontecimento em que uma pessoa queima até virar cinzas, sem causa externa aparente para a ignição.

Características
A maioria dos 200 casos conhecidos de combustões humanas espontâneas (CHE) têm características similares. Primeiro, o corpo é quase completamente incinerado enquanto a maior parte da área ao redor permanece intocada; apenas o corpo, o chão embaixo e o teto logo acima são afetados.
A segunda característica comum é que o torso é a parte mais consumida pelas chamas, com os possíveis restos pertencentes às extremidades. A terceira é que assim como não há evidência externa de ignição, também não há anda que supostamente tenha acelerado ou começado o fogo. Finalmente, a vítima está normalmente sozinha, e em casa, quando encontra o fogo mortal. E geralmente são reconhecidas como vivas quando o fogo começou, mesmo que não sejam comuns sinais de luta. Há diversas teorias para explicar o fenômeno: explicações paranormais e naturais, envolvendo causas mais ou menos verificáveis. Entre as explicações naturais mais plausíveis está a ideia de que as vítimas – que tendem a ser idosas, enfermas ou obesas – estão dormindo, ou imóveis, ou ainda mortas por algo como um ataque do coração, e acionam alguma fonte de fogo – comumente um cigarro derrubado. Uma hipótese conhecida como o “efeito pavio” sugere que alguma faísca externa ou chama queima as roupas da vítima o suficiente para chegar à pele. A pele então libera gordura, que age de modo similar à cera da vela. O efeito foi testado e concluíram que o corpo humano contém gordura suficiente para garantir a própria combustão. Outros estudiosos da combustão humana espontânea têm suas próprias teorias, baseadas em explicações mais “loucas”. Uma delas sugere que partículas como os raios gama causam uma CHE, em uma reação livre de oxigênio – mas como isso acontece e de onde vem a energia é um mistério. Outra explicação ainda não testada é a de que níveis anormais de álcool no sangue atingem o ponto de pegar fogo espontaneamente. Mas os níveis de concentração alcoólica necessários para tanto faz a teoria impossível. Uma terceira ideia é de uma faísca de um acúmulo de eletricidade estática, que inicia o fogo nas roupas da vítima. Mas isso soa pouco plausível para os infernos mortais que tiraram a vida de centenas de pessoas.

Teorias sobre a combustão espontânea
Incêndios não costumam começar por conta própria. Quando os investigadores procuram a causa dos incêndios florestais, não assumem que a chama acendeu a si mesma. Em vez disso, eles costumam suspeitar que um campista descuidado ou um raio a tenham causado. No entanto, muitas coisas podem se auto-inflamar sem exposição a chamas, sob certas circunstâncias – entre estas substâncias estão o pó de carvão, pilhas de compostagem e trapos usados sujos de óleo.
Mas essa é uma questão totalmente diferente de afirmar que as pessoas podem de repente explodir em chamas, sem motivo aparente. Não há dúvida de que corpos podem queimar. Crematórios diariamente reduzem o corpo humano a cinzas no curso de algumas horas. O mistério da CHE está nas circunstâncias supostamente estranhas sob as quais as vítimas “explodem”.
Normalmente, conta a lenda, não há nenhuma fonte óbvia de ignição, como fogueiras nas proximidades, que possam atear fogo à pessoa. Além disso, as vítimas são mortas, e não, por exemplo, apenas parcialmente queimadas em um braço ou uma perna. A CHE é fatal. Alguns afirmam que a queima muitas vezes parece começar no peito ou na região do estômago, deixando os restos terríveis de pernas e mãos intactas. Outros afirmam que os móveis e pisos sob e em torno das vítimas (incluindo até mesmo suas roupas) permanecem misteriosamente não queimados.

Um olhar mais atento
Algumas dessas reivindicações populares são simplesmente erradas. Por exemplo, há muitas fotografias de supostas vítimas que mostram claramente extensa queima e danos ao ambiente e às roupas da pessoa. Também é importante entender um pouco da ciência forense do fogo: muitos incêndios são autolimitados, isto é, eles se apagam naturalmente, porque ficam sem combustível. Embora o público muitas vezes veja queimadas descontroladas engolindo completamente quartos e prédios inteiros, os incêndios são imprevisíveis. É bem possível, por exemplo, que apenas um tapete, cama ou sofá peguem fogo, sem que este se espalhe para o resto do cômodo. Como normalmente o fogo queima para cima em vez de para fora, não há nada de paranormal ou estranho sobre encontrar uma vítima queimada até a morte em uma parte de um quarto, enquanto o resto do lugar tem poucos danos. E sobre a fonte de ignição? O que poderia levar pessoas a, de repente, explodir em chamas? Um século atrás, a causa foi atribuída à falta de controle e até mesmo à ira de Deus: a maioria das vítimas eram supostamente bêbados que haviam saturado suas celas com álcool. Na década de 1970, uma explicação quase freudiana entrou em voga sugerindo que os estados emocionais de depressão de uma pessoa pudessem de alguma forma fazer com que ele ou ela pegasse fogo. Outros sugeriram que as manchas solares, tempestades cósmicas, bactérias intestinais produtoras de gás ou mesmo um acúmulo da suposta “energia vibracional” do corpo poderiam ser os culpados.
No entanto, todas estas explicações são pseudocientíficas e não há nenhuma evidência de qualquer uma delas. Nossos corpos são compostos por cerca de 60% a 70% de água não inflamável, e o simples fato é que não existe um mecanismo físico ou médico pelo qual uma pessoa poderia possivelmente entrar em combustão. Se as pessoas realmente pudessem simplesmente explodir de repente sem estar nem remotamente perto de uma chama, provavelmente haveria exemplos de eventos do tipo enquanto a vítima estava nadando, em uma banheira, ou até mesmo mergulhando. No entanto, esses casos não existem.

Conheça 7 casos mais famosos sobre a combustão humana espontânea:

7 – Mary Hardy Reeser (1951)
Em 1951, na Flórida, os restos carbonizados de Mary Reeser, de 67 anos, foram encontrados na cadeira em que ela estava sentada, com nada mais fora o crânio, parte do pé esquerdo e o osso da coluna. Mesmo com o corpo quase completamente incinerado, houve pouco dano à sala – nada esperado para um incêndio típico.
O chefe de polícia local, J. R. Reichet, enviou uma caixa com evidências para o FBI, junto com uma nota: “Pedimos informações ou teorias que possam explicar como um corpo humano pode ser tão destruído, o fogo confinado a uma área tão pequena e tão pouco dano à estrutura do prédio, e a mobília do quarto nem mesmo chamuscada pela fumaça”. O FBI respondeu com a teoria do pavio – um cigarro gerou o fogo.
6 – John Irving Bentley (1966)
John Irving Bentley era um físico de 92 anos da Pensilvânia, encontrado morto em seu banheiro, queimado até a morte. A única sobra do corpo de Bentley foi a metade inferior da perna direita, com o pé ainda usando um chinelo. O corpo queimou tanto que as sobras foram parar no porão, embaixo do banheiro. Um teórico acredita que as cinzas do cachimbo de Bentley caíram nas suas roupas e os fósforos no bolso ajudaram no resultado. O que parece ser um jarro de água quebrado estava na banheira, sugerindo que Bentley tentou apagar o fogo, mas morreu antes de conseguir.
5 – Henry Thomas (1980)
Henry Thomas, de 73 anos, foi encontrado na sala de sua casa em Wales quase que completamente incinerado – exceto pelos seus pés calçados e pernas abaixo dos joelhos, e o crânio. Metade da cadeira onde estava também foi destruída, e o calor derreteu o controle da televisão.
O policial John E. Heymer comentou que “a sala estava inundada por uma luz laranja, que vinha das janelas e de uma lâmpada. Essa luz é o resultado da luz do dia e da eletricidade sendo filtradas por gordura humana evaporada e condensada nas superfícies. O restante da casa estava completamente intacto”. A equipe forense afirmou que a morte foi resultado do efeito pavio, sugerindo que Thomas caiu na lareira e sentou-se de novo. Entretanto, Heymer discorda, dizendo que o oxigênio na sala fechada não iria permitir o efeito, e ainda lembrou-se das bordas da calça da vítima – “que pareciam queimadas por um laser”.
4 – George Mott (1986)
Apenas um crânio encolhido e uma costela foram encontrados depois que George Mott, um bombeiro nova-iorquino de 58 anos, queimou até virar cinzas, junto com a cama onde estava deitado. Investigadores lançaram a ideia de que um arco elétrico e um vazamento de gás tinham causado as chamas. Mott era conhecido como um fumante e bebedor pesado, e não estava com a máscara de oxigênio que costuma usar.
3 – Jeannie Saffin (1982)
Um dos poucos casos de combustão espontânea em que uma testemunha esteve presente é o de Jeannie Saffin, uma mulher de 61 anos com idade mental de seis. Saffin estava sentada com o pai, de 82 anos, na casa deles, em Londres, quando, de acordo com o testemunho do homem, ele percebeu de relance um raio de luz.
Quando se virou para a filha, ele a viu coberta de chamas mas sem movimento ou qualquer tentativa de apagar o fogo. Ele tentou apagar o fogo, machucando as mãos no processo. Jeannie sofreu queimaduras de terceiro grau na parte superior do corpo, mas morreu uma semana depois, enquanto estava no hospital.
2 – Michael Faherty (2010)
O irlandês Michael Faherty, de 76 anos, foi encontrado morto, com a cabeça perto da lareira, em sua sala. Os danos no local estavam limitados ao teto acima de sua cabeça, o chão logo abaixo, e o corpo, totalmente incinerado. A polícia, entretanto, não acreditou que a lareira foi a causa do incêndio. O coronel afirmou que “esse fogo foi investigado e eu fico com a conclusão de que isso entra na categoria de combustões humanas espontâneas, para a qual não há explicação adequada”. Outros acreditam que as cinzas do fogo tenham sido responsáveis.
1 – Robert Bailey (1967)
Em um estranho caso de combustão espontânea em Londres, um passageiro de ônibus avistou chamas azuis na janela de um apartamento superior e presumiu ser um jato de gás. A testemunha chamou o corpo de bombeiros, e Robert Bailey, um homem de rua, foi encontrado morto nas quentes escadarias do prédio. Um bombeiro afirmou que as chamas azuis – extinguidas com uma mangueira – estavam vindo de uma fenda no abdome de Bailey, que ainda estava vivo quando começou a queimar.

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